Peça do Mês – Rendas de Bilros da Capela de São João Batista
Visita guiada temática
Entre os muitos tesouros da Capela de São João Batista, na Igreja de São Roque, passa por vezes despercebido um conjunto delicado e requintado: as rendas de bilros que guarneciam a roupa branca. Estas peças, longe de serem meros adornos, revelam a sofisticação e o cuidado que caracterizaram a encomenda de D. João V, refletindo a importância simbólica e estética atribuída ao culto.
A coleção integra cerca de 220 peças de roupa branca, verdadeiro enxoval litúrgico, enriquecido com rendas flamengas. A escolha da Flandres não foi casual: no século XVIII, Bruxelas, Binche e Malines eram centros de excelência na produção de rendas, reconhecidas pela sua qualidade e beleza. As rendas flamengas ocupavam o primeiro lugar no mercado europeu, superando até as francesas. Este prestígio explica a opção por peças vindas desses centros, garantindo à Capela um nível de requinte comparável ao das mais importantes igrejas da Europa.
As rendas apresentam duas tipologias principais: a renda contínua, típica de Malines, e a renda repartida, característica de Bruxelas, composta por elementos produzidos separadamente e depois unidos entre si. Entre os exemplares mais notáveis contam-se algumas orlas de corporal, atribuídas com segurança à produção bruxelense, pela delicadeza dos motivos e pela complexidade técnica. Outras peças, embora mais simples, revelam padrões estilizados, como corolas e festões, que conferem elegância às toalhas e corporais.
A aquisição destas rendas envolveu uma figura singular: Marianna Cenci-Bolognetti, aristocrata romana ligada ao círculo do Papa Bento XIV. Foi ela quem coordenou a confeção das peças, recorrendo a religiosas e a profissionais especializadas, como Madame Berganter, responsável pelo plissado dos tecidos. Este trabalho minucioso, que incluía pregas regulares e efeitos de claro-escuro, seguia o gosto barroco e exigia grande perícia, como ilustram tratados da época.
O transporte das peças para Lisboa foi igualmente complexo. Em fevereiro de 1746, um grande caixote contendo a roupa branca saiu do Palácio Cenci, em Roma, rumo ao navio que o levaria até Portugal. Esta logística reflete a dimensão internacional da encomenda, que articulou Roma, Flandres e Lisboa num projeto único.
Hoje, estas rendas são não apenas testemunhos de uma arte delicada; são fragmentos de uma história maior, que une diplomacia, devoção e luxo. Ao lado dos mármores raros e dos mosaicos preciosos da Capela, as rendas recordam-nos que a magnificência barroca se estendia aos mais pequenos detalhes, transformando cada elemento do culto numa expressão de poder e beleza.
Marcação prévia obrigatória.
Participação paga: 3.50€ por pessoa
Máximo 20 participantes.
Marcações e/ou Informações
Museu de São Roque
213 235 449
museusaoroque@scml.pt
