Peça do Mês – Rendas de Bilros da Capela de São João Batista

03.12.2025 - 13h30

Visita guiada temática

Entre os muitos tesouros da Capela de São João Batista, na Igreja de São Roque, passa por vezes despercebido um conjunto delicado e requintado: as rendas de bilros que guarneciam a roupa branca. Estas peças, longe de serem meros adornos, revelam a sofisticação e o cuidado que caracterizaram a encomenda de D. João V, refletindo a importância simbólica e estética atribuída ao culto.

A coleção integra cerca de 220 peças de roupa branca, verdadeiro enxoval litúrgico, enriquecido com rendas flamengas. A escolha da Flandres não foi casual: no século XVIII, Bruxelas, Binche e Malines eram centros de excelência na produção de rendas, reconhecidas pela sua qualidade e beleza. As rendas flamengas ocupavam o primeiro lugar no mercado europeu, superando até as francesas. Este prestígio explica a opção por peças vindas desses centros, garantindo à Capela um nível de requinte comparável ao das mais importantes igrejas da Europa.

As rendas apresentam duas tipologias principais: a renda contínua, típica de Malines, e a renda repartida, característica de Bruxelas, composta por elementos produzidos separadamente e depois unidos entre si. Entre os exemplares mais notáveis contam-se algumas orlas de corporal, atribuídas com segurança à produção bruxelense, pela delicadeza dos motivos e pela complexidade técnica. Outras peças, embora mais simples, revelam padrões estilizados, como corolas e festões, que conferem elegância às toalhas e corporais.

A aquisição destas rendas envolveu uma figura singular: Marianna Cenci-Bolognetti, aristocrata romana ligada ao círculo do Papa Bento XIV. Foi ela quem coordenou a confeção das peças, recorrendo a religiosas e a profissionais especializadas, como Madame Berganter, responsável pelo plissado dos tecidos. Este trabalho minucioso, que incluía pregas regulares e efeitos de claro-escuro, seguia o gosto barroco e exigia grande perícia, como ilustram tratados da época.

O transporte das peças para Lisboa foi igualmente complexo. Em fevereiro de 1746, um grande caixote contendo a roupa branca saiu do Palácio Cenci, em Roma, rumo ao navio que o levaria até Portugal. Esta logística reflete a dimensão internacional da encomenda, que articulou Roma, Flandres e Lisboa num projeto único.

Hoje, estas rendas são não apenas testemunhos de uma arte delicada; são fragmentos de uma história maior, que une diplomacia, devoção e luxo. Ao lado dos mármores raros e dos mosaicos preciosos da Capela, as rendas recordam-nos que a magnificência barroca se estendia aos mais pequenos detalhes, transformando cada elemento do culto numa expressão de poder e beleza.

Marcação prévia obrigatória.
Participação paga: 3.50€ por pessoa
Máximo 20 participantes.

Marcações e/ou Informações
Museu de São Roque
213 235 449
museusaoroque@scml.pt